Guiné-Bissau assume presidência da Plataforma dos PALOP’s para desenvolvimento da Primeira Infância

Bissau, 29 de março de 2025 – A Guiné-Bissau foi eleita para assumir a presidência da recém-criada Plataforma Lusoafricana para o Desenvolvimento da Primeira Infância (PLADPI), um marco histórico para o país no que diz respeito às políticas educacionais e de proteção infantil. O anúncio foi feito ontem (28.03), durante o encerramento da Primeira Conferência de Educação e Desenvolvimento da Primeira Infância entre os PALOP’s, realizada em Maputo, Moçambique, sob o tema: “Investir na Educação e Desenvolvimento da Primeira Infância nos Países da Língua Portuguesa e criar Bases para o Futuro de África”.

Coordenador da Rede Nacional dos Jardins de Infância da Guiné-Bissau (RENAJI-GB), Quecuta Indjai, foi eleito presidente da PLADPI para um mandato de dois anos, após apresentar a candidatura no início do encontro, na quinta-feira (27). A decisão foi tomada durante a primeira assembleia constituinte da plataforma, que reuniu especialistas em educação infantil, representantes governamentais e organizações da sociedade civil dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

Uma vitória para a educação infantil na Guiné-Bissau

A eleição da Guiné-Bissau para liderar esta iniciativa regional é vista como um reconhecimento dos esforços do país na promoção da educação pré-escolar, apesar dos desafios estruturais e financeiros que ainda enfrenta. Quecuta Indjai, em declarações à imprensa, destacou que a Guiné-Bissau levou para o encontro as suas experiências e boas práticas no setor da primeira infância, incluindo projetos-piloto em comunidades rurais e urbanas.

“Esta é uma oportunidade para partilharmos o que temos feito e, ao mesmo tempo, aprendermos com as experiências dos outros países”, afirmou Indjai. “Agora, o nosso desafio é fortalecer as políticas públicas para a primeira infância, não apenas na Guiné-Bissau, mas em toda a região lusófona africana.”

Objetivos da Plataforma e próximos passos

PLADPI foi criada com o objetivo de promover a cooperação entre os PALOP’s no desenvolvimento de estratégias integradas para a educação, saúde e proteção social das crianças entre 0 e 6 anos. Entre as prioridades da plataforma estão:

  1. Fortalecer a formação de educadores infantis nos países membros;
  2. Aumentar o acesso a creches e jardins de infância, especialmente em zonas rurais;
  3. Promover políticas públicas que garantam nutrição adequada e cuidados médicos para crianças;
  4. Mobilizar financiamento internacional para projetos de desenvolvimento infantil.

Indjai adiantou que, nos próximos meses, a PLADPI irá realizar encontros técnicos com ministérios da Educação e da Saúde dos PALOP’s, além de buscar parcerias com agências das Nações Unidas, como a UNICEF e a UNESCO, para alavancar recursos e conhecimentos especializados.

Desafios e expectativas

Apesar do otimismo, especialistas alertam que a falta de investimento crónico em educação infantil na Guiné-Bissau e noutros PALOP’s pode dificultar o avanço da plataforma. Dados do Instituto Nacional de Estatística da Guiné-Bissau indicam que apenas 15% das crianças em idade pré-escolar têm acesso a jardins de infância, sendo a maioria em áreas urbanas.

“A nomeação da Guiné-Bissau para liderar esta iniciativa é positiva, mas é preciso que o governo e os parceiros internacionais assumam compromissos financeiros concretos”, afirmou Adelaide Silva, especialista em educação infantil“Sem recursos, será difícil implementar políticas eficazes.”

Reações internacionais e próximos eventos

organização não-governamental portuguesa Fundação Fé e Cooperação (FEC), que participou da conferência em Maputo, elogiou a criação da PLADPI e a escolha da Guiné-Bissau para a presidência.

“Esta plataforma é um passo importante para garantir que as crianças dos PALOP’s tenham um começo de vida digno e oportunidades iguais”, disse Miguel Carvalho, representante da FEC.

A próxima reunião da PLADPI está prevista para junho de 2025, na Cidade da Praia, Cabo Verde, onde serão discutidos os primeiros projetos concretos da plataforma.

Um novo capítulo para a primeira infância na África Lusófona

A eleição da Guiné-Bissau para presidir a Plataforma Lusoafricana para o Desenvolvimento da Primeira Infância marca um momento decisivo para a cooperação regional em educação infantil. Se conseguir mobilizar os recursos necessários e articular políticas eficazes, a PLADPI pode tornar-se uma ferramenta fundamental para garantir um futuro melhor para milhões de crianças nos PALOP’s.

Agora, o desafio está nas mãos do governo guineense e dos seus parceiros para transformar discursos em ações concretas – porque, como lembra Quecuta Indjai, “investir na primeira infância é investir no futuro de toda uma nação”.

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